Afrânio Fonseca de Paula
Origem: Fortaleza – Ceará
Nascido em 24 de outubro de 1966
Na Bélgica desde 1999 ( 14 ANOS em 2013 )
Afrânio vem de uma família de 7 irmãos. Todos estudaram, cada um com um interesse diferente. Ele sempre teve interesse por arte em geral. Em 1985 começou seus estudos superiores em Historia na Universidade Estadual do Ceará,mas, dois anos depois, antes mesmo de concluir seu curso, decidiu que ir para São Paulo estudar na Faculdade de Belas Artes de São Paulo (FABESP).Onde estudou desenho e pintura.O gênero de pintura que mais o fascinava era o Retrato. Começou a fazer mosaicos à partir de 1988 depois de visita a uma grande exposição do arquiteto catalão Gaudi no Museu de Arte de São Paulo.
Morou 8 anos nesta cidade e 4 anos em Campinas, onde tinha seu atelier. Trabalhou como professor titular de Mosaicos na Fundação Cultural Cassiano Ricardo na cidade de São José dos Campos. Mesmo antes de ir a São Paulo estudar, sempre desejou fazer uma Academia de Belas Artes na Europa.
Afrânio, conte para nós um pouco do seu trajeto de vida?
Desde muito tempo, eu queria vir para a Europa me especializar em pintura. Fazer uma Academia de Belas Artes, era esse um dos meus motivos principais de vida. No início foi muito difícil por em prática este desejo. Problemas econômicos e administrativos me impediam.
Conhecimento técnico e valorização do meu trabalho, eram as duas razoes principais para seguir uma Academia Europeia.
Eu achava que estudando aqui, meu trabalho teria uma projeção maior, além, como falei, também teria como crescer tecnicamente. Eu buscava as experiências artísticas europeia e sobretudo a historia da pintura.
E para onde você pensava em vir?
A princípio, três cidades me interessavam: Berlim, Dusseldorf ou Londres. As escolas de pintura destas três cidades tinham tudo a ver com o que eu procurava.
Sempre fazia mosaicos, era, além do meu ganha pão, minha única forma de expressão artística Eu posso dizer que minha chegada aqui em Bruxelas começou com um dossier que enviei para a L’École des Arts et Métiers de Paris em 1993. Eu queria fazer uma especialização em mosaico nessa escola. Infelizmente meu dossier não foi aceito naquele ano.
Uma amiga Belga vendo isso, me sugeriu de estudar em Bruxelas,já que aqui havia varias escolas de Arte.
Como tinha uma certa curiosidade por esse País e a história da Pintura flamenga era fundamental para mim, decidi então tentar estudar aqui. Esta curiosidade vinha ainda do início dos meus estudos de História em Fortaleza. Me focava em dois países a Holanda e a Bélgica flamenga, importante saber que a cidade de Fortaleza foi fundada por estes povos. Quando falo que pintura flamenga era fundamental para mim, me refiro a três coisas:
1- A pintura a óleo,que foi desenvolvida e melhorada aqui.
2- A pintura barroca de Rubens.
3- A tradição dos retratos na história da pintura inglesa que veio de Van Dyck.
Tinha também uma admiração por Permeke e Magritte.
Em 1994, tive minha autorização de residência dado pelo consulado belga para vir estudar aqui.
Mas não foi nesse ano que baixei por aqui. Troquei Bruxelas por Campinas. A Bélgica veio 5 anos depois.
E porque a Europa?
Eu morava em São Paulo, uma cidade enorme. Gosto muito de lá, tenho grandes amigos aí. Mas nessa época me sentia apenas mais um artista no meio de milhares.
Eu buscava me afirmar artisticamente no Brasil, antes de vir à Europa. Eu queria aparecer. Risos. Fui à Campinas por razões profissionais e sentimentais. Lá, graças a ajuda e carinho de pessoas maravilhosas, pude crescer por meio do que eu sabia e gostava de fazer : mosaicos.
No ano de 1998, depois de passar três meses em Leipzig, na Alemanha, trabalhando com crianças, resolvi retomar o que chamava de “projeto Bruxelas” e executá-lo.
E como começou sua historia da migração?
Inicialmente eu fui a Alemanha. Durante 3 meses trabalhei em um atelier comunitário em um bairro de Leipzig . era um trabalho social com crianças. Todas as escolas do bairro participaram. Foi muito rico em experiência para mim. Eles fizerem um painel coletivo que fixamos em um parque, foi muito bonito e divertido. Quase todos os fins de semana estava em Berlim. Fiquei também em Paris , onde pude contactar e conhecer o então professor de mosaico da l’École des Arts et Métiers. Quando voltei da Alemanha,continuei a dar aulas na Fundação Cultural de São José dos Campos. Lá, tinha uma aluna Belga, cuja família me incentivou e me convidou a vir para Bélgica.
Em 1999 resolvi finalmente vir para cá.
Cheguei em abril, fiquei 3 meses, voltei ao Brasil para resolver as papeladas, malas, coisas, vida, etc e voltei novamente em setembro onde fiquei até hoje. Sim, vou ao Brasil com uma frequência de uma vez a cada ano. Nunca cortei os laços com a família nem com os amigos, eles são fundamentais para mim.
Quando chegou, você se comunicava em francês com eles?
Sim eu já compreendia bem e falava um pouco. Havia estudado francês no Brasil. No início não era fluente , pouco a pouco fui aperfeiçoando. No dia a dia , na vida cotidiana, na faculdade…a gente vai assimilando e quando vê, já é uma segunda língua.
Qual a cidade inicial?
Inicialmente fiquei um mês no interior de Flandres, próximo a Leuven. Depois Bruxelas.
E a Academia de Belas Artes?
Iniciei a Academia no ano seguinte, em setembro de 2000. Antes fiz algumas exposições aqui, dava aulas de mosaicos, fazia alguns bicos aqui e ali para ganhar mais dinheiro e fazia também diversas viagens entre a França, Inglaterra, Alemanha , Holanda e naturalmente na Bélgica. Bons momentos.
E qual foi sua opção nessa época?
Eu fiquei dando aulas de mosaicos na “Maison do Brasil”,um centro cultual brasileiro com restaurante e espaço anexo para atividades culturais. Lá eu conheci várias pessoas. Muitos são meus amigos,ate hoje.
Quando comecei a estudar as coisas começaram a ficar mais difícil. A Academia era o dia inteiro, manhã e a tarde. Eu tinha que viver, ou seja, pagar aluguel, comer, me vestir, comprar materiais artísticos, livros… Buscava horários para poder trabalhar. Dava aulas, vendia mosaicos, limpava casas e fazia mudanças. Contei também com a ajuda de amigos, o que foi prá mim muito precioso. Agradeço sempre a todos. Foi muito legal. Nas férias de verão fazia trabalhos maiores nas casas de amigos, o que garantia minha matrícula anual na Academia, além das minhas viagens para o Brasil.
Estudei durante 5 anos. Obtive finalmente o diploma da Royale Académie de Beaux-Arts de Bruxelles.
Entretanto pude me legalizar e alguns anos depois tive a nacionalidade belga, com direito a participar ativamente das atividades políticas da Bélgica.
Fico muito contente e também realizado quando vejo que meu trabalho artístico começa a ser valorizado aqui. Em outubro de 2012, uma peça minha foi escolhida e adquirida pelo Museu da Cidade de Bruxelas para fazer parte do seu acervo permanente.
Apesar deste reconhecimento, não vivo somente “d’Art et d’eau fraîche” , trabalho como todo mundo para me permitir a fazer Arte. O que é muito bom.
E hoje, como você se sente em relação a um trabalho seu ter sido escolhido para representar o Brasil no Museu da Cidade de Bruxelas?
Mannekin Pis Branco (vídeo) http://videos.lalibre.be/video/actu/decouvrez-le-manneken-pis-blanc/?sig=iLyROoaf2_b5&fb_action_ids=10200223564539868&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=246965925417366
Me sinto muito gratificado e orgulhoso. Sabendo que esta conquista foi o resultado de anos de trabalho e tenho isso como um presente a dar de retorno a todos aqueles que, de maneira direta ou indireta, participaram da minha vida.
Este trabalho que está lá, naquele prédio lindo, reflexo do romantismo do século XIX , situado na “praça mais linda da Europa” é para mim uma doação que eu faço para todos.
E o Brasil? Você já pensou em voltar?
Eu sempre penso. No início era mais fácil, dizia : Uma vez acabado meus estudos, volto.
Os anos passaram e passam e continuo por aqui.
Sim, tenho projetos para o Brasil mas isto é coisa do futuro. E como dizia René Magritte: “O futuro é um mistério”. Vou ficando por aqui…
Bruxelas, 25 de fevereiro de 2013
outras obras de Afrânio no site do artista