Flávio Maciel de Souza
nasceu em 22 de novembro de 1975
de Recife
Mora atualmente em Anderlecht
Flávio Maciel de Souza é um dos músicos e atores brasileiros que marcaram e marcam ainda sua identidade na Bélgica.
Para tornar-se essa personalidade conhecida, não foi fácil. Passou por caminhos sinuosos, súbitas perdas familiares, além de outros tantos males. Mas sempre positivo, deu a volta por cima e venceu.
Infância
Recuperando um pouco a memória deste artista, a primeira lembrança forte que ficou gravada foi quando tinha três anos. Sua mãe deixou Recife para ir para São Paulo. Seu pai biológico praticamente não existiu. Solteira e com um menino para criar, sua mãe foi tentar a vida na capital paulista em busca de uma vida melhor. Flávio ficou na companhia de sua bisavó até os cinco anos.
“Fiquei dois anos me correspondendo por carta com minha mãe que um dia, felizmente, voltou para Recife para me buscar e me levar para a capital paulista”, conta Flávio com sotaque paulista arraigado desde a infância.
Sua mãe casou-se em São Paulo e Flávio foi crescendo sendo criado pela mãe e seu padrasto que hoje chama com carinho de pai. Desde pequeno, via seus pais dançarem e escutarem música e, por consequência, começou a amar a dançar e a cantarolar. “Meus pais sempre gostaram de dançar sem compromisso”, lembra.
Por volta de seus sete anos, Flávio que já estudava no colégio católico de São Paulo, o São Francisco de Assis, estava indo a caminho de um baile de carnaval com seus pais quando passou pela frente da Igreja de seu colégio.
“Eu estava fantasiado de superhomem como toda criança que vai à uma matinê de carnaval. Pedi aos meus pais para entrarem na igreja que eu costumava frequentar durante os dias de escola para mostrar-lhes. O padre, ao me ver fantasiado, me deu um sermão terrível, e dali em diante fiquei chateado com a igreja. Cheguei a ficar na salinha da sacristia um tempão e meus pais me esperando…Não perdi a fé nem a crença mas achei aquilo desproporcional”, avalia.
Sobre a sua adolescência, Flávio diz que a considera dura e bacana.
“Eu tinha sido filho único até os oito anos e depois outros dois irmãos vieram. Eu vivia muito bem, meu padrasto era comerciante e tinha alguns comércios em São Paulo. Mas ele faliu exatamente quando o meu primeiro irmão nasceu. Meu padrasto então fez de tudo para que recuperássemos a vida que tínhamos. Eu me sentia culpado pois eu tinha tido tudo de bom e do melhor até quando o meu primeiro irmão nasceu e teve que ter uma vida mais difícil, assim como meu segundo irmão que nasceu 4 anos depois. Tivemos que mudar de bairro e fazer esforços para levantar a família”.
Mas Flávio sempre guardou uma força incrível e uma positividade muito grande. Trabalhava com o pai no comércio, estudava e atuava como palhaço com um grupo circense. Ficou sendo conhecido como palhaço linguiça pois era fino e alto.
“Participávamos de um bufe infantil que tinha um show próprio de palhaços. Trabalhei quatro anos e fui superfeliz”, orgulha-se.
Aos 15 anos, enquanto cursava o segundo grau, iniciou o curso profissionalizante de teatro e televisão chamado Emílio Fontana.
“Comecei a trabalhar logo, fiz espetáculos dirigidos pela esposa de Emílio, a Leda Villela. Nessa época, eu trabalhava com o meu pai, fazia teatro e ainda estudava na escola, tudo ao mesmo tempo. Fiquei anos assim. Foi aí que conheci a companhia Marombar e montamos o espetáculo musical “Farsa para Guignol”. Nesta época, tive de aprender rapidamente violão. Em três meses estudei de 12 a 14 horas por dia para estar pronto para o espetáculo. Estudei o repertório de canções populares espanholas, harmonizadas por Garcia Lorca. Com esse mesmo espetáculo que ficou um ano em cartaz em São Paulo, viemos nos apresentar aqui na Bélgica, em Rochefort, no “Festival du Rire” de 1994. Foi ótimo até porque o teatro no Brasil nesta época estava em decadência. Chegamos a criar um sistema de venda de ingressos em que conseguíamos muitos patrocínios dos restaurantes italianos no bairro do Bexiga onde estava o nosso teatro. Cantávamos e vendíamos os ingressos para os clientes.
Migração
Mas nossa intenção era vir e ficar na Europa, sobretudo na Espanha, que tinha a ver com a peça. Quando chegamos em Sevilha, começamos a tocar na rua com os instrumentos de percussão que recebemos como patrocínio da fábrica “Contemporânea”. O problema é que não sabíamos tocar. Tivemos que aprender na raça e com a ajuda de meu professor de violão Evandro Pichirilli. Para sobreviver, ficamos tocando nas ruas mesmo até que alguns contratos para festas privadas, bares, discotecas começaram a aparecer.
Este ano, 2014, festejamos 20 anos de Europa, e pretendemos festejar durante o ano inteiro. A primeira festa reuniu toda a família em Rochefort. Depois de viver 2 anos e meio na Espanha eu vim para a Bélgica onde fiquei até 1999. Cheguei a voltar para o Brasil e ficar uns 5 anos lá, mas alguns acontecimentos, como a morte do meu primeiro irmão que foi-se por causa da violência urbana,me fez voltar .
Tenho três filhos, sendo dois meus próprios e minha sobrinha que adotei e mora conosco. Sinceramente, não voltaria para o Brasil para morar. Quero me organizar para ir uma ou duas vezes por ano porque o amo e tenho saudades. Mas estou adaptado aqui, onde temos qualidade de vida e segurança. Não me sentiria tranquilo criando meus filhos no Brasil. O Brasil é lindo, tem tudo, mas a história se resume em dominante e oprimido. E a maneira que achamos para enfrentar essa opressão é violenta. E isso ainda vai levar alguns anos para tentar ser resolvido…”
Bélgica
E para dar uma forcinha para o Brasil melhorar, Flávio trabalha, juntamente com seus irmãos de coração Paulinho da Cuíca e Arlene Rocha em duas associações a Terra Brasil e a Alma Brasil com o objetivo de divulgar a cultura brasileira.
“Fazemos intercâmbios, trabalhos socioculturais, damos aulas de dança, música e teatro, e organizamos eventos para ajudar uma creche em Salvador”.
O músico ainda atuou no cinema em 2007 com o filme belga chamado Brusilia, de Daniel Lambo. Daqui para frente, Flávio pretende lançar seu segundo CD programado para 2016 e deseja continuar a estudar canto erudito e fazer direção de espetáculos multi-disciplinares (dança, teatro e música). O primeiro CD que lançou foi o “Ritmus Project” que vale a pena ser conferido.