Isoldi Lourdes Hartmann Lützenkirchen
7/08/1958
Cândido Godoi, Rio Grande do Sul
Mora em Kraainem, Bruxelas
Isoldi é um tipo de mulher loira, de olhos azuis e fala alemão perfeitamente. A primeira impressão é de que estamos em frente de uma estrangeira, mas não. É brasileira com certeza, do Sul do Brasil, mais precisamente da cidade de Cândido Godoi, onde fala-se um dialeto alemão*. De família grande, eram oito no total, Isoldi cresceu entre festas imensas, brigas e muitas brincadeiras também.
“Minha mãe era uma pessoa muito dinâmica e meu pai era funcionário público. Tudo funcionava muito bem na minha casa. Fazíamos os deveres sozinhos e jogávamos futebol nas horas vagas”, lembra com um grande sorriso no rosto.
A então menina, desde cedo, gostava muito de ler, de brincar de ser professora e amava, sobretudo, saber qual era a dimensão do planeta. “Eu não teria muito futuro na minha cidade, por isso resolvi abrir os meus horizontes”, conta.
A gaúcha foi estudar fora. Percorreu um pouco mais de 500 quilômetros até chegar a Nova Hamburgo para fazer o segundo grau já com o curso de magistério incluído. Mais tarde, mudou-se para Santa Maria, outra cidade do Sul, e prestou vestibular para filosofia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e obteve licenciaturas em filosofia, psicologia e sociologia.
Após ter terminado a universidade, retornou para Nova Hamburgo e foi ser chefe de recrutamento numa fábrica de calçados e ao mesmo tempo dava aulas de psicologia à noite. “Eu era responsável pela relação entre chefe e empregado e promovia cursos de relação interpessoal”, explica.
Mas Isoldi queria aprofundar o alemão que já falava desde pequena e que aprofundou durante a Universidade. Conseguiu, então, um estágio na Alemanha (Hamburg) no setor de exportação, em 1984. Lembrando um pouco a história de sua ascendência, a gaúcha é a sexta geração de filhos da imigração. O primeiro imigrante Hartmann alemão de sua família chegou ao Brasil em 1845.
“A Alemanha era pobre e o Brasil fazia muitas promessas para o futuro. Foram para o Sul devido ao clima e a paisagem brasileira. Lá fala-se um dialeto alemão misturado com o português”, frisa.
Foi em Hamburg que conheceu o atual marido Klaus e em duas semanas ele a pediu em casamento. “Foi amor à primeira vista. Tivemos dois filhos e estamos há quase 30 anos casados”, orgulha-se. Uma curiosidade: Klaus que é da mesma região que o bisavô de Isoldi.
O tempo passou e se mudaram para Bruxelas em 1991 por conta do trabalho de Klaus.
Na Bélgica, Isoldi não ficou parada. Criou juntamente com um grupo de outras brasileiras (Joana de Carvalho e Eva de Souza) a Associação Cultural do Brasil na Bélgica (ACBB), uma entidade sem fins lucrativos que ajudava a quem chegava ao país. “Dávamos informações sobre escolas, médicos, advogados, lojas especializadas em produtos brasileiros, entre outras informações necessárias para a comunidade brasileira”, afirma.
Havia também uma lista de nomes de brasileiros que viviam na Bélgica para facilitar a comunicação entre a comunidade, com a vantagem da pessoa poder falar a sua língua, o português.
A Associação também promovia festas brasileiras com pratos tradicionais de nossa gastronomia, além do Carnaval e festa junina.
Ainda na Bélgica, Isoldi também foi a idealizadora do Projeto infantil, o Alecrim, que funcionou até o ano passado no Consulado-Geral do Brasil em Bruxelas, com o objetivo de expandir a língua portuguesa para as crianças através de atividades lúdicas. “Língua é cultura. Os pais precisam falar o português com os seus filhos”, sublinha.
E seguindo sempre o amor pelo ensino, Isoldi dá aulas, Há 17 anos, de religião na Escola Europeia, na seção alemã.