Cleber Marcos do Nascimento Santos
14 de agosto de 1961 mas foi registrado no dia 24 de agosto. Comemora sempre o aniversário duas vezes por ano por conta das duas datas oficiais de nascimento.
Pipa, muita dança e Bélgica resumem o baiano Cleber
O que uma pipa, a dança baiana e a Bélgica tem em comum? Se você não souber a resposta, basta ir até o prédio da Embaixada do Brasil, na Av. Louise, 350, e perguntar por Cleber Marcos do Nascimento Santos, o segurança, figura conhecida no país e no seio da comunidade brasileira, já faz algum tempo.
Numa conversa informal, o baiano contou para o site ME Brasil – com boa dose de humor – um pouco de sua trajetória, desde sua infância, em Salvador, até chegar à Bélgica.
“Eu estava sentado na porta de casa e vi uma pipa, bem no alto, voando. Tinha uns dez anos e fiquei apaixonado. Rapaz, que coisa linda, disse. Na Bahia a gente chama pipa de raia. E comecei a soltar pipa. Ficava horas e horas brincando até chegar a começar a fabricá-las. Fiz várias. E continuou na Europa, mais precisamente, em Ostende, onde há até festivais de pipas gigantescas. Até há pouco tempo eu ainda soltava pipas”.
Mas foi na adolescência que Cleber descobriu o amor pela dança. “Eu era muito moleque, ia para as discotecas e aí surgiu deu ser bailarino. Eu não tinha experiência alguma, mas levava jeito para a coisa. E Graças a Deus que a dança sorriu para mim pois eu poderia ter caído no mundo da bandidagem. Eu não tive muito oportunidade de estudar. Cheguei a trabalhar como montador e desmontador de carro, estoquista etc. Mas a dança me salvou. Cheguei a ser um dos precursores da dança de rua em Salvador. Éramos um grupo de quatro ou cinco pessoas. Era a época do Break Dance. Nesta época, um amigo meu me viu fazendo uma performance na rua e me convidou para fazer aulas de dança. Aprendi a realmente a questão do tempo, da contagem, ou seja, todas as técnicas que sempre me faltaram para dançar. Não parei mais e mergulhei nesta vida”, conta.
Cleber estudava com bolsa na escola de dança de seu amigo. “Em seguida, recebi convite para dar aulas nas academias de dança da cidade. Foi então que outro amigo me viu e me disse que estava rolando uma audição para ir para a Europa”, explica. Num primeiro momento não deu certo, mas ao ser visto por um grande dançarino, Domingos Campos, em Salvador, foi convidado imediatamente. Aos 28 anos, eu partia para a Europa. Foi uma loucura, não sabia de nada, nunca tinha tirado passaporte na minha vida. Peguei dinheiro emprestado, tirei uma foto no lambe-lambe e imigrei”, lembra.
Cleber desembarcou diretamente no BOZAR, no Museu de Belas Artes, de Bruxelas, onde há inúmeras salas de espetáculos, e considerado um dos grandes centros culturais do país. “Apresentamos um espetáculo eclético com várias danças brasileiras chamado Brasil Tropical. Depois, seguimos para a Alemanha, França, Europa, Itália, Holanda, Escandinávia, Sarajevo até chegarmos a Bagdá. Em Bagdá fui recebido por Saddam Hussein que disse no aeroporto: Welcome to Bagdá. Não sabia quem era este homem à época. Depois me contaram. Nós éramos conhecidos por Alia Babá e os 40 ladrões, éramos muitos no grupo. E para dançar no Iraque não foi fácil, tivemos que passar por uma “correção” em nossas roupas. As moças dançaram com véus na cabeça e com o corpo coberto. Mas foi um grande aprendizado”, orgulha-se.
Depois de três meses se apresentando com o Brasil Tropical, Cleber voltou para o Brasil mas decidiu voltar para a Europa. Foi morar em Munique, na Alemanha. E depois apareceu outra oportunidade de se apresentar no Cassino de Ostende, na Bélgica, agora com o grupo de lambada Kaoma. “Rodamos o mundo todo e fomos nos apresentar até em Las Vegas. Estava ficando famoso, mas em pouco tempo, casei e me instalei em Ostende. Lá, dava aulas em academias de ginástica, sobretudo, aulas de aeróbica. Também dava cursos em outras cidades da Bélgica como Bruges. Em 1995, a minha última apresentação como bailarino aconteceu em Forest National, em Forest, em Bruxelas, interpretando o Bolero, de Maurice Ravel, com coreografia do francês Maurice Béjart. Fichei com chave de ouro”, conta com carinho.
Oito anos mais tarde, se enveredou pelo mundo da música e virou percursionista e cantor. Hoje, conjuga o trabalho de segurança do prédio da Embaixada do Brasil, com apresentações com um grupo de jazz intitulado My Priority. Por vezes dá workshop de capoeira. Cleber confessa que é feliz na Bélgica onde também tem um filho. “Apesar de nao estar mais casado, gosto daqui, meu trabalho é tranquilo e ainda tenho algumas meios dias de folga. Sinceramente, nao tenho o que reclamar”, diz.
Em compensação, sobre o Brasil, o baiano confessa estar revoltado. “O clima e as pessoas são maravilhosas, o resto não dá mais para contar. Volto pois tenho minha familia lá, tenho muitas saudades, mas nao tenho vontade mais de morar lá. É um país injusto com seus cidadãos. O Brasil tem um sistema que ao invés de melhorar a vida das pessoas só piora”, conclui.